Sentes-me?

E afinal o que é a minha vida para além de um retraçar de ti mesmo?
O que são esses lábios rosados?
Esse ar de menino?
O que é essa carne fatigada da vida que nunca envelhece?
O que te faz viver em mim?

Tu és tal e qual aquele talismã que se perde no mar e só dá à costa uma vez de mil em mil anos.
És precioso, de tonalidades inesplicáveis, frágil.
És amor de corpo e alma enquanto em te guardo nos meus braços.



Ora meu amor, por onde tinhas tu andado durante estes últimos mil anos que ainda não te tinha deslumbrado?
Certamente não vivi na vida passada, ou certamente te perderas por oceanos diferentes dos meus. Mas, seja por que motivos for, hoje estás nas minhas mãos.
Não como o objecto frágil, mas como a pedra preciosa em forma humana.
E estar nas minhas mãos não é algo tão linear como julgas-te ler. Estares-me aqui exposto nestas mãos de criança é o mesmo que dizer-te que levas em ti tudo de mim, que te transporto - e que tu me transportas.
É como se metade da minha vida fosses tu que a vivesses, e a metade que resta foi aquela que vivi andando à tua procura.

Um beijo, J.I.